As
expectativas em torno do novo Paris Saint-Germain, principalmente após o
anúncio das contratações de Thiago Silva e Zlatan Ibrahimovic, causaram
alvoroço na pré-temporada. Afinal, na teoria, atrair craques desse quilate
tornou o time imbatível em território francês. É, na teoria, caro leitor. Pois na
prática, pelo menos até o momento, os comandados do italiano Carlo Ancelotti
ainda estão longe de convencer.
Em
três jogos pela Ligue 1, dois deles em pleno Parc des Princes, o PSG soma três
empates. Uma equipe previsível, carente de dinâmica e refém de estratégias
táticas bem montadas pelos adversários. A antítese do que era esperado antes de
a temporada começar, embora seja cedo para toda e qualquer projeção que
se possa fazer vislumbrando a Liga dos Campeões, por exemplo – é nítida a falta
de entrosamento dos novos reforços.
Frente
ao Lorient, na primeira rodada, Ancelotti fez jus aos seus conceitos táticos,
escalando a equipe no tradicional 4-3-2-1. Na ausência de Thiago Silva, o jovem
Sakho fez companhia ao brasileiro Alex no miolo de zaga, com
Chantôme, Verratti e Bodmer compondo a trinca de volantes. Mais à frente, Ménez
e Lavezzi teriam a missão de assessorar Ibrahimovic, referência no comando de
ataque. Não deu certo.
Bem
armado pelo ótimo treinador Christian Gourcuff – pai do meia Yoann, do Lyon e
seleção francesa – , o Lorient postou-se no 4-4-1-1, limitando espaços e
apostando nos contra-ataques puxados por Monnet-Paquet e Traoré, sempre pela
esquerda, às costas do medíocre lateral direito Jallet. Com o atacante
Aliadière, ex-Arsenal, num dia inspirado, foi assim que os visitantes chegaram
aos 2 a 0 antes do intervalo.
O
diagrama abaixo mostra o duelo tático dos primeiros 45 minutos. Repare, na
segunda figura, como Ibrahimovic recua para buscar o jogo entre as duas linhas do Lorient:
Em desvantagem no marcador, logo no início da etapa complementar, Ancelotti
trocou Bodmer e Verratti por Nenê e Matuidi, respectivamente. No 4-2-3-1, com o
meia brasileiro centralizado na armação das jogadas, o Paris Saint-Germain foi
para o abafa e conseguiu o empate graças a Ibrahimovic. Convém dizer, no
entanto, que o Lorient perdeu o zagueiro Ecuele Manga (principal jogador do
time), lesionado, ainda na etapa inicial.
Com
o recuo de Romao para a defesa e a entrada de Coutadeur, os visitantes perderam
pegada no meio-campo e recuaram em demasia:
Contra
o Ajaccio, fora de casa, no jogo seguinte, Carlo Ancelotti manteve o 4-3-2-1,
mas mudou peças e estratégia. Com o jovem Verratti barrado, Pastore teria a
missão de iniciar a armação das jogadas, deslocado pela esquerda na trinca de
meio-campistas, ao lado de Chantôme e Matuidi. Lesionado, Ibra deu lugar a
Nenê, escalado como “falso nove” junto a Ménez e Lavezzi, que atuaram mais
abertos, num 4-3-3 com a bola:
As
“pardalices” de Ancelotti não deram certo, e tanto Pastore como Nenê acabaram
sacrificados. No 4-2-3-1 (4-4-1-1 sem a bola) tradicional de Alex Dupont, o
Ajaccio fez uma partida correta e contou com a expulsão do constrangedor Lavezzi no
início do segundo tempo. Eduardo ainda acertou a trave de Sirigu, numa jornada
bastante infeliz dos parisienses, que, com um homem a menos, garantiram o
empate postados num 4-3-1-1.
Repare,
nas figuras abaixo, como Ménez e Lavezzi centralizam sem a bola (4-3-2-1) e
buscam o flanco a partir da armação de Pastore:
Por
fim, no empate do último domingo diante do Bordeaux, mais uma vez o Paris Saint-Germain teve
imensas dificuldades a partir da ótima estratégia defensiva montada pelo adversário.
Ancelotti promoveu as entradas de Thiago Motta e do garoto Rabiot, de apenas 17
anos, no meio-campo, alterando novamente a trinca de volantes. Pastore avançou
e fez companhia a Nenê, com Ibrahimovic de volta ao onze inicial.
Armado
por Francis Gillot no 5-3-1-1, com vocação nítida para o encaixe de marcação no
4-3-2-1 do PSG, os visitantes deram uma aula de estratégia e posicionamento. Os
laterais Mariano e Marange ficaram presos junto aos três zagueiros, com
N’Guemo, Obraniak e Saivet compondo um triângulo de base alta no meio-campo.
Mais à frente, Jussiê buscava municiar Diabaté e, sem a bola, vigiava
Matuidi. Tudo milimetricamente calculado:
No
segundo tempo, como ocorrera na estreia contra o Lorient, Ancelotti lançou mão
do 4-2-3-1, com Ménez no lugar de Rabiot, pela esquerda, Nenê buscando o flanco
direito e Pastore centralizado. Dessa
vez, porém, o abafa não deu certo e, afobado, o PSG abusou dos erros.
Plasil, Sertic e Maurice-Belay deram novo gás ao meio-campo de Gillot, e o
empate sem gols ratificou o acerto na estratégia do Bordeaux:
Nas
próximas rodadas, Carlo Ancelotti ganhará o reforço de Thiago Silva, que deve
fazer companhia a Alex no miolo de zaga. Os maiores problemas, no entanto, não
estão na defesa, e vão desde a limitação de Jallet até a previsibilidade do
meio-campo, passando pelo mau momento técnico de nomes como Pastore e Ménez. O
time não encaixa, não cria, não consegue envolver os oponentes. E o treinador
italiano parece sem convicção.
Caso
o 4-3-2-1 seja mantido, o jovem Verratti é a melhor pedida na meia-cancha, com seu
passe vertical e inteligência. Diante da irregularidade de Pastore, o jovem
meio-campista também pode atuar como armador num 4-3-1-2, esquema que
aproveitaria Lavezzi (ou Nenê) e Ibrahimovic como companheiros de ataque. Outra
opção é o 4-2-3-1, formação que subutiliza o sueco, mas pode potencializar Nenê
e Ménez, por exemplo.